A GAIOLA
Eu sempre observava, quando ia à casa de um amigo, aquela gaiola na parede com um velho canário. Por mais que meu amigo insistisse, para que o passarinho enchesse os pulmões e soltasse aquele som mais belo, o coitado não demonstra vontade de cantar e isso acabava irritando o velho amigo. Enquanto tomava o café, a cada golada que dava, não parava de observar o pássaro, pois me dava um dó. Não me contentava vê-lo pulando de um lado ao outro naquela gaiola. Por mais que eu tentasse dar ouvidos à conversa do amigo, não conseguia e, ora ou outra, olhava para o solitário pássaro. Eu sei que é antiético ficar com os pensamentos vagando quando alguém fala comigo, mas não sei controlar essa situação e então dou assas a imaginação. Mesmo sem querer acabo aborrecendo alguém.
O pouco que ouvi, ele falava de planos para o próximo ano, falava do curso que estava terminando na universidade, do carro novo que acabara de comprar, dos preparativos para o noivado com a bela Gabrieli. Eu concordava com tudo o que ele falava e, muitas vezes, nem era algo que concordasse: eu estava voando!
Meu amigo percebeu que eu estava um pouco sem dar muita atenção àquela conversa e me perguntou se eu estava bem. Respondi que sim e que só estava matutando algo e que eu iria resolver. Ele não se conteve e me perguntou qual seria o assunto e eu, mais que depressa, comecei a dizer que eu me sentiria como aquele velho canário. Ele me questionou e eu disse: eu me vejo como esse canário, caro amigo. Sinto-me preso mesmo estando livre e não sinto o prazer de cantar, assim como ele. Infelizmente vivemos num mundo capitalista e manipulador, que nos obriga a fazer algo que não queremos, mas se não o fizermos, a situação fica mais complicada. Às vezes eu sinto o desejo de fugir sem rumo e imagino que é o mesmo que esse pobre canário mais queria.
Meu amigo ficou calado me observando, não teve reação e não entendia aquele meu estado, mas logo depois me questionou. Só expliquei aquilo que ele já sabia. Conversamos sobre nossas vidas, nossos planos, projetos… bebemos vários cafés.
Fiz a ele um único pedido e ele disse que eu poderia pedir qualquer coisa que ele me atenderia. Pedi que ele soltasse aquele pequeno canário, pois assim eu me sentiria mais feliz aquele dia. Ele me observou por um instante, abraçou-me forte e fez o que eu desejava.
O pássaro, logo que viu a gaiola aberta, saiu voando sem rumo e começou a cantar o mais alto que aguentaria. E eu, assim como o pássaro, estava cantando por dentro e com o sorriso no rosto. Senti-me no dever de dar liberdade aquele que não podia fazer nada, já que a minha liberdade só dependia de mim.
“Em nossa jornada da vida, muitas vezes nos deparamos dentro de uma gaiola, mesmo estando livre; sentimos como o pobre canário, preso nesse mundo opressor, à espera de um milagre. Ora sem cantar ou sorrir, ou os dois ao mesmo tempo. Não podemos desanimar, que possamos dar sentido à vida todos os dias”
Francisco de Assis Ferreira