Lá está ele, em pé, calado, olhos fixos nos cantos da parede, do fundo. Calado está, calado fica. Não há como ouvir nada, ou melhor, uma barulheira só. Na cabeça do professor só um pensamento naquele momento: um inferno! Só não chora para não demonstrar raiva, ódio…impotência.
Ele grita, chamando a atenção dos alunos. Grita novamente pedindo silêncio, mas é mesmo que nada. Senta na cadeira, joga os livros na mesa. Depois de uns vinte minutos notam que o professor já está presente.
Não tem para onde correr. Em todo lugar, em todas as salas, em todas as escolas onde leciona sempre a mesma coisa: uma perdição só!
No ensino fundamental, depois do recreio, a pior parte é o professor conseguir “pôr ordens na casa”. As crianças correm na sala como se estivessem correndo no pátio da escola. Arrastam cadeiras, derramam alimentos no chão, e o professor só “pira o cabeção”. Se não fossem as dívidas que ele tem para pagar, não estaria no lugar errado e na hora errada. Como vou pagar minha moto que comprei em cinquenta parcelas? Como vou pagar o aluguel da casa? Como vou pagar a feira da casa? Como vou pagar o cartão de crédito? Como vou pagar o empréstimo? Como vou… Não tem jeito, tem que trabalhar!
Às vezes, para “mudar a monotonia”, ou melhor, para não se descabelar, não perde tempo e logo reserva a sala de vídeo. A criançada nem pisca direito, presta a maior atenção no filme, saboreia, delicia-se, animam-se. O professor fica observando e se pergunta: por que esses pestinhas não ficam quietos na sala de aula?
Muitas vezes vê Cleudete, professora de Geografia, com o maior mimo com a molecada e, muitas vezes, nota que ela consegue “desdobrar” a turma toda. Será como ela consegue esse êxito? Pergunta-se, questiona-se, mas não conversa com ela para não demonstrar que não tem controle da situação.
Ao chegar em casa, a mulher pergunta: como foi hoje, meu amor? Como sempre, um inferno! Como a mulher não sabe o que se passa em uma sala de aula, imagina que o marido reclama de tudo, pois pensa que aquelas crianças são todas “anjinhos”.
O professor olha para o calendário procurando quando vai ter um feriado, não que seja para viajar, pois o salário pouco dá para pagar as contas, só para ficar um dia de folga da escola.
Quando recebe o salário, o banco já comeu a parcela do empréstimo, já foram descontados os gastos com cartão de crédito e agora o que restou é para pagar as contas que faltam, sem falar que a mulher sempre quer comprar isso, aquilo…
O professor é um lutador que nunca perde a esperança e, sem sombra de dúvidas, um brasileiro que não desiste nunca!