Sempre quando é férias, nada melhor que viajar e rever os amigos e parentes que moram em outra cidade ou até mesmo apenas ficar de férias e passear no shopping e comprar algumas coisas inúteis, dessas que compramos quase sempre sem precisar e sem ter como pagar, ou se temos como pagar, ainda são inúteis.
Havia chegado minhas férias, eu estava bastante contente, q
uer dizer, um pouco contente, pois agora eu teria tempo para viajar, mas faltava algo…dinheiro. Por que será que nossas vidas vive em torno desse mal? Por causa dele o bom vira ruim e o ruim se estraga ainda mais.
Voltando às férias, tive um plano quase perfeito, se é que existe plano quando não se tem dinheiro, mas pensemos assim, para ter um pensamento positivo. Lembrei-me que ainda me restava duzentos reais do meu salário, se é que posso chamar de salário quando mal dá para pagar as contas, ou melhor, quando dá. Não perdi meus ânimos, pois afinal, não é todo dia que sobra alguns trocados. O que eu iria fazer com duzentos reais? Pensei…pensei…pensei mais um pouco e finalmente lembrei de meu amigo que mora em “berlândia”. Não gastaria muito indo lá, já que não iria pagar hotel nem comida. Como resido em Campo Grande, Mato Grosso “DO SUL”, seria vaput-vupt…dezesseis horas dentro de um “busão”. Para mim que já ficou três dias dentro de um, acho a coisa mais normal. Tendo apenas aquela quantidade em meu bolso e só dava para ir, bati um fio para minha mãe que mora em Apui, no Amazonas e bati “171” na velha. Eu sabia que ela não iria me negar, como sempre nunca negou, mas não gosto de ficar pedindo, não havia outra solução. Não demorou muito e a mesma quantia estava na minha conta. Saquei o dinheiro o mais rápido possível para que o banco não comece um tanto cobrando aquelas tarifas que nunca entendemos de tanta cobrança.
Fui comprar a passagem de ônibus, de ônibus. Peguei três ônibus até a rodoviária, em horário de pico e, para quem já andou de ônibus circular, sabe do que estou falando. Era cinco horas e quarenta minutos, hora em que todos saem do trabalho e rezam para pegar uma poltrona – se é que podemos chamar de poltrona – mesmo que sendo dura no “golf”: grande ônibus lotado e fedido. Se o ônibus transporta quarenta e cinco passageiros, ele dobrou a carga. Nunca me senti tão espremido como naquele dia e, para piorar, um lazarento soltou um peido de arder as narinas. Pensei calado: filho de uma…
Pechinchei a passagem com o vendedor, que não queria fazer nenhum desconto. De tanto eu insistir, ele deu um desconto de vinte reais e eu ganhei meu dia. Vinte reais daria para eu comer de coxinha até “berlândia”. Voltei para casa e fui arrumar uma mala que comprei só por que estava com uma etiqueta vermelha e, como pobre não pode ver uma etiqueta vermelha, acabei comprando. De fato ela estava barato, só trinta reais. Não cabe muitas coisas, pois ela mede só dois palmos de comprimento por um palmo de largura e um palmo de altura (estando deitada).
Começo arrumar a mala; lavar as louças; retirar as roupas do varal; secar um tênis velho com o secador de cabelo…tudo ao mesmo tempo e ouvindo umas músicas que só eu gosto aqui em casa, mas como eu estava sozinho, poderia apreciar sem moderação.
Comecei arrumando a mala e quando abro o zíper do lado de fora veja o que encontro: uns quatro cintos que minha mulher havia comprado e nunca usou e, assim como eu, só comprou por que estava com a etiqueta…vermelha. As mulheres são assim, compram coisas que não usam.
Começo recolher as roupas do varal e já observando qual está mais nova para eu colocar na mala. Não avisto nenhuma mais nova que a outra…todas velhas. Quando olho para a meia, nem sei qual está melhor. As meias que eram pretas já estão cinzas de tanto lavar; as brancas já estão cinzas de tão encardidas…sem salvação. Quando vou fazer a seleção das melhores, avisto um par que parecia perfeito até eu avistar aquele rasgado que saia o dedão e mais dois dedos para fora. Não havia um par de meia que prestasse. Peguei-as e joguei na mala.
Enquanto eu iria passear de ônibus, minha mulher teve o privilégio de viajar para o amazonas de avião. Não sou tão cruel em deixá-la três dias balançando do sol nascer ao sol se pôr. Depois que eu fiz a primeira viagem com ela de asa dura, nunca mais ela quis saber de ônibus. Já fazia uns cinco anos que eu não mais viajava de ônibus e seria bom voltar às origens.