NOSSA HISTÓRIA
Estes são alguns relatos contados por aqueles que vivenciaram diferentes culturas e que, de alguma forma contribuíram para a formação do outro. Nem tudo é verdade, não que seja mentira, apenas uma forma “pitoresca” de abordar a narrativa. De volta ao passado…
Eu não me lembro se eu coloquei o pé direito ou o pé esquerdo, quando pisei no degrau frente à porta do seminário, mas acho que o final me explica essa passagem.
Frente à porta toquei a campainha que fez um barulho forte pelo lado de dentro do seminário. Logo apareceu um rapaz “alegre”, muito alegre por sinal e foi neste exato momento que eu não sabia o que realmente eu iria fazer alí. Logo depois comecei a conhecer pessoas maravilhosas que fizeram parte de minha vida.
Quando entrei, senti um ar de calmaria, não se ouvia nenhum barulho, mesmo por que ainda não havia chegado todos os seminaristas de suas casas, onde teriam visitados suas famílias. Logo bem recebido pelo seminarista Sérgio, que me conduziu para conhecer a estrutura do seminário e conhecer o lugar onde eu iria passar por um bom tempo que eu nem sabia quanto.
Chegando ao quarto estava lá ele, o Paraibano, Cicero Roberto, muito carismático que me recebeu com a maior alegria, ainda mais quando soube que eu havia nascido no Ceará, não tinha como esconder minha cabeça chata. Ainda me recordo bem, ele estava com as pernas cruzadas, uma sandália de couro, creio eu que de jumento, e um crucifixo no pescoço. Conversamos muito e fizemos logo uma verdadeira amizade, pois como já disse, ele era e ainda deve ser de uma personalidade fantástica. O paraibano foi o primeiro que havia chegado no seminário e, logo em seguida, eu.
Em um único lugar havia goiano (comedor de pequi), paraense, cearense (cabeça chata), amazonense(preguiçoso), mineiro (come quieto e ama queijo), paraibano… de todas as partes do Brasil. Foi uma experiência maravilhosa para todos, pois era uma troca de informação e conhecimento que nunca saberíamos se não estivesse ali.
Cada seminarista tinha uma peculiaridade de ser. O mineiro william era o mais novo, tinha uma voz fina e uma risada engraçada; O Alcimar, paraense, ria de tudo o tempo todo, queria ver o circo pegando fogo, usava uma calça marrom com bolsos largos dos lados do joelho e um tal no pescoço, sempre usava o bordão “caaaara”.
Ao longo da narrativo irei detalhando as características de cada um, sem exceção.
O DORMITÓRIO
Em toda casa há um lugar especial, não é mesmo? No seminário não era diferente. Para uns, o melhor lugar era a quadra de futebol; para outros a piscina; o dormitório; a área de estar nas cadeiras de balanço… cada um tinha um lugar preferido para diversão ou descanso, pois para limpeza, creio que a maioria não gostava do ofício em qualquer uma dessas partes. Quando me lembro da quadra, já me vem à cabeça a hora do terço, todos os dias ave-marias e santa-marias entre os dedos. Já que estamos falando do dormitório, a melhor hora era quando íamos dormir e a pior, quando tocava música na caixa de som do dormitório para acordarmos. Dava uma preguiça danada. Quando as luzes se apagavam, não podia mais acendê-las, mesmo se tivesse perdido alguma coisa. Só se via pequenas luzes parecendo vaga-lumes, todos ficavam conectados na rádio, ou ouvindo músicas das fitas cassete. O Band Coruja, da rede Bandeirantes de Rádio, com Marcelo e diguinho era o programa favorito da maioria, se não fosse de todos que ouviam rádio.
O dormitório era enorme, com três fileiras de camas totalizando trinta e duas. O claro da rua ultrapassava os vidros das janelas e clareava um pouco. Nos cantos do dormitório havia os armários onde dividíamos cada armário com outro seminarista. Duas gavetas para cada um, meio a meio era dividido, não ultrapassando nem um cabide. Havia o banheiro com seis boxes de tomar banho e uns quatro para fazer as necessidades fisiológicas. Havia também uma ala onde se estendia as toalhas.