LOUISE
Se a vida parecia perfeita, por que uma pessoa muda os planos em um piscar dos olhos e deixa para trás um mistério em poucas palavras no papel?
“As lembranças estavam espalhadas nos cantos da casa. Não havia nada que não fizesse o coração palpitar e, ao mesmo tempo, doer. Se as lembranças podem nos trazer felicidades, algumas delas podem fazer sofrer quem tem sentimentos, desses que às vezes não conseguimos demonstrar em palavras, mas em gestos”.
Louise estava decidida a sair de casa. A data do dia treze de Janeiro seria a divisão de duas histórias que antes fora uma. O que Deus uniu o homem jamais poderia separá-lo, mas…
A moça e agora mulher, por um momento cabisbaixa no sofá, com o leptop nas mãos o observa.
Deixou para trás apenas os porta-retratos, algumas peças de roupas usadas, álbuns de fotografias das viagens que faziam de férias, do casamento, da lua de mel, do dia-a-dia. Deixou também sua coleção de álbuns de Vanessa da Mata e Adriana Calcanhoto, a coleção que ela sempre costumava escutar quando estava em casa. Algumas lembranças boas que ficaram gravadas nas imagens.
Decidida, Louise não pensa naquele que foi seu amante, amigo, amor, paixão. Em cima da mesa da sala algumas poucas palavras no papel.
Louise fechou a porta da casa, do coração, dos olhos e partiu. Com os olhos lacrimejados, borrando a maquiagem que acabara de fazer, Louise se foi.
Albert chegou em casa e a primeira coisa que avistou foi a carta daquela que fora sua companheira por dois anos de casados, três de namoro e um ano de troca de olhares. Não acreditou que Louise o deixou. Assim como Louise os olhos se entregaram. Albert pôs as mãos na nuca, ligou desesperadamente para Louise, mas não adiantou, só dava caixa postal. Várias e várias vezes a mesma coisa. Sentou-se no sofá e abaixou a cabeça. Aos poucos as palavras borraram-se no papel, ficando quase que irreconhecível. Albert não acreditava no que estava escrito naquela carta. Jamais imaginou que aquela que seria a verdadeira metade o abandonou sem deixar pistas para onde ia e que não queria atender o telefone.
Duros minutos se passaram naquele momento. Sem reação, sem pensamentos, apenas um vazio no lar e no coração. Definhou-se Albert em prantos.
A noite não seria tão fácil sem Louise que completava a vida daquele que foi um rapaz sem rumo e se tornou um homem de bem.
Ficou em silêncio profundo. Dava para ouvir os ponteiros do relógio contando o sofrimento e os soluços de Albert. Em cada segundo uma lágrima rolava. Naquela noite o sofá e o companheiro inseparável, o cachorro Adolf, que Albert ganhara de presente da amada no aniversário, foram os que aqueceram o solitário homem. Para completar o sofrimento, porta-retratos por toda parte da casa: em cima da mesa, na estante, nas paredes da casa… Não havia uma foto em que os dois não estariam sorrindo e agora na vida real só tristeza. Até o chaveiro havia a foto dos dois.