Já se passava das 19h, quando Toim ligou o rádio de pilha, tentando sintonizá-lo na rádio para saber das últimas notícias no plantão do tio chico. Não se ouvia quase nada. Uma chiadeira só! Gira o botão para um lado, gira para o outro e… nada! Certo de que já estava acontecendo a quarentena e há uma semana isolado dos velhos amigos de praça, não aguentava mais ficar dentro de casa com a Dona Noca. A saudade de jogar o dominó na praça, de jogar o jogo de pife com o velho amigo Justino, como dupla, fazia que a tristeza batesse à porta. Dona Noca ironizava o companheiro, dizendo que ele precisava arrumar outra coisa de futuro para ele, pois jogos não trazia dinheiro para dentro de casa. Toim só balançava a cabeça, pensando consigo mesmo: “Deus, perdoe essa megera, ela não sabe o que fala”. Não adiantava discutir com a companheira, pois ela sempre tina razão e, se não tinha, fazia de conta que tinha. O portão da casa estava fechado a sete chaves, tanto para não receber visitas, quanto para não deixar o marido escapar num piscar de olhos. Nem recebia os filhos que insistiam em vê-los. Não tinha acordo! Dona Noca não deixava nem que fosse cinco metros de distância. Na verdade não era só Toim que queria sair de casa, a companheira se segurava e disfarçava, pois o que ela mais gostava era bater perna para fofocar da vida alheia com as amigas. Como não dava para vê-las pessoalmente, Dona Noca teve uma excelente ideia: criar um grupo no “zap”. De hora em hora, ou melhor, de minuto em minuto, a “megera”, como diz seu Toim, dava aquela risada gostosa, gargalhadas, que chegava a chorar. Toim novamente balançava a cabeça e pensava: “que futuro tem isso? Ela só vê o meu lado, mas não enxerga o dela”! Como ele não entendia bem do mundo moderno, ficava num canto amuado, tentando sintonizar o velho rádio de pilha. Fazia falta a TV que foi ao conserto e que iria demorar para arrumá-la com esse sistema parado. A esperança era saber alguma notícia pelo carro de som que passava na rua dando as últimas informações. Quando tocava aquela marcha fúnebre, Toim já imaginava que seria mais um idoso acometido pelo CORONA e, logo, pensava em seus companheiros da praça. Quase não ouvia o carro de som, com as gargalhadas da velha companheira. Foi a “pandemia” o “surto” de raiva nas ventas de Toim. Logo ele exclamou: “Arruma uma coisa para fazer, que não seja ficar fofocando da vida alheia com essas suas amigas megeras”! Dona Noca arregalou os olhos, olhou firme para o velho companheiro e disse, como sempre diz: vai carpir o quintal, Toim!
Francisco de Assis Ferreira